sábado, 5 de setembro de 2009

50 anos de Casamento

O show marcado para às 21 horas começa com vinte minutos de atraso, mas isso não impede a vontade e a histeria do público. As emoções são evidentes em todos os detalhes. Sem dúvida, poucos artistas na história da música popular brasileira colecionam um público tão fiel e diversificado. No palco, o cantor grisalho é simpático, conta a história das músicas e toca todos os hits. Mas esse é o final da história. Permita-me começar de novo respeitando a “dinâmica” ordem do jornalismo atual.

São Paulo, zona sul, Santo Amaro, início da noite do dia 21 de agosto. Maria Aparecida Venâncio, mineira, 64, dona-de-casa, e João Preboir Venâncio, mineiro, 70, aposentado, entram no carro em direção ao Ginásio do Ibirapuera. A programação do dia é diferente das novelas e dos rotineiros programas policiais de televisão.


O casal mudou-se para São Paulo em 1961, um ano após o matrimônio, à procura de trabalho e de melhores condições de vida. Hoje, após quase 50 anos de casamento e de residência na capital paulista, a família é composta também pelas duas filhas, Maria Efigênia e Eliana Basso, e três netos, Thiago, Vanessa e Lucas.

Pergunto à Maria Aparecida sobre o casamento e ela responde: “É muito bom estar casada, se eu puder, pretendo realizar uma grande festa de comemoração. Num casamento de 50 anos, existem momentos bons e momentos ruins, mas, se eu pudesse recomeçar, eu faria tudo exatamente igual”.
Esse é o primeiro show da vida deles, e a preparação começa horas antes do espetáculo. Maria Aparecida arruma o cabelo, se perfuma, experimenta uma, duas, três combinações de roupa. Por fim, decide ir com um sapato preto, uma calça social, uma camisa e um blazer. “Tenho que estar bonita para o Rei, diz ela. João veste uma tradicional camisa branca, uma calça social preta e um sapato também preto.
A família sai de casa. Após meia hora de trajeto, estacionam o carro e entram no ginásio. Sentam-se nos respectivos locais H20 e H21, no anel superior. São 20h40, e aos poucos os lugares vazios são preenchidos.
Quando Roberto Carlos entra no palco, o ginásio inteiro delira. O show comemora os 50 anos da carreira do cantor, artista brasileiro e latino-americano com a maior vendagem de álbuns no mundo, 120 milhões ao todo. Sucessos como “Emoções”, “Detalhes”, “Nossa Senhora”, “Lady Laura” são cantados em coro.
Após duas horas de espetáculo, as tradicionais rosas brancas e vermelhas são entregues à platéia. O artista sai do palco. Visivelmente impressionada, Maria Aparecida declara: “Ele é um cantor completo. As músicas lembram minha infância e diversos momentos da minha vida”.
Em 50 anos de carreira, Roberto Carlos construiu um casamento com o público. Um casamento musical sustentado pela verdade, pelo respeito, pela fidelidade, pela fé e principalmente pelo amor, tema frequente nas letras.
Aos poucos o ginásio se esvazia. A euforia contamina as ruas. O casal se dirige ao carro. O show, naquela noite, pode ter acabado, mas ficam as fotos, as lembranças e as histórias para contar aos netos.
Thiago Luis

2 comentários:

Luh Paulu's disse...

O Texto está ótimo, embora o tenha lido noutro blog, mas o blog está fenomenal!

Muito bom mesmo, da gráfica aos posts!

Parabéns!
=D

Mylena Lira disse...

Gostei muito do texto. Passa além de informação, emoção. O que, na minha opinião, deve sempre acompanhar a boa redação. Apesar de, como você disse, seguir a "dinâmica" ordem do texto jornalístico, você não seguiu a mórbida maneira factual de contar uma 'história', o que deu ao seu texto um sabor especial, ou melhor, deu a nós, leitor, um prazeroso sabor ao lê-lo.
Beijos e continue assim, caminhando rumo ao profissionalismo. Fé em Deus e fá na Taba. Te adoro.

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